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Há pouco mais de uma década a escova progressiva causou furor nos salões de beleza e uma tendência ainda mais forte para o alisamento dos fios surgiu. Crespos, cacheados e até mesmo ondulados passaram pelo tratamento para ficarem lisos. O processo do momento, porém, é inverso: os fios naturais estão em alta e quem alisou agora luta para ter de volta cachos e ondas na cabeça. A tarefa não é fácil, diferente das colorações que podem ser “cobertas” com o novo tom desejado, a transição capilar, que significa colocar fim à química aplicada aos cabelos, só tem dois ingredientes: o tempo e a tesoura.
Segundo a cabeleireira Juju, do salão Juju Cabelos Afro, a duração da transição capilar varia de acordo com o crescimento do cabelo e a textura. “De quatro meses a um ano, em média”, disse. A profissional trabalha há mais de 20 anos com cabelos cacheados e notou o aumento da procura por fios naturais. “É o momento de assumir o cacho, o volume, o natural. A mídia está apoiando essa nova fase”, comentou. A blogueira Ana Clara Rocha, 23 anos, alisou o cabelo a primeira vez aos 12 anos. “Eu acreditava que ficava muito mais bonita, me sentia mais aceita” lembrou. Quando surgiu a mensagem na mídia de “seja linda como você é”, Ana ganhou força para assumir os cachos.
A dona de casa Fabiana de Fátima, 35 anos, também foi influenciada pelas campanhas de revistas e TV, e deixou a química após mais de 17 anos de alisamento. “Encontrei uma matéria sobre transição capilar na internet e vi como nós, negras, ficamos lindas com nossos fios naturais. Me apaixonei”, disse. Outro incentivo para elas colocarem ponto final à escova progressiva foi o comprometimento da saúde dos cabelos. Ana Clara passou a sentir dores no couro cabeludo e Fabiana chegou a ter alergia aos produtos de alisamento. Segundo elas, os fios ficaram destruídos após anos de substâncias químicas.
A transição: raiz cacheada e pontas lisas
Se raspar a cabeça não está entre as opções, o processo para voltar a ter fios naturais é esperar o cabelo crescer. Por 10 anos, a comunicadora Ellen Rodrigues, 25 anos, retocou a raiz a cada três meses no salão, o que ela considera hoje uma “escravidão”. No último ano, ela criou coragem de interromper o procedimento. “A parte mais difícil é lidar com duas texturas diferentes, além de aceitar um cabelo que você já nem lembra mais como é”, contou. Esse é o principal desafio apontado por quem está passando pela transição capilar. Pensando nisso, Ana Clara compartilha em seu blog, Leuxclair, dicas sobre penteados e estratégias para lidar com a combinação raiz cacheada e pontas lisas.
Segundo Juju, as clientes também reclamam das críticas de outras pessoas sobre o visual “desarrumado” que o cabelo adota. “Nos sentimos feias, parece que você descuida da beleza e ainda tem gente que faz piadinhas”, afirmou a assistente de exportação Ana Paula Cordeiro, 31 anos. Ela alisou os fios pela primeira vez aos oito anos e só parou com a química graças ao apoio do namorado e a uma reviravolta em sua vida profissional. “Já faz quase onze meses que estou em transição e em poucos dias farei o temido b.c. (big chop)”, contou.
Tratamentos até o ‘big chop’
“Big chop” é o corte de todo o comprimento do cabelo que tem química. Ele acontece quando o fio natural atinge um tamanho confortável para a pessoa. Até lá, Juju recomenda umectação (umedecimento dos fios com óleos) e corte das pontas com frequência para estimular o crescimento dos cachos. Chapinha, creme defrizante, hidratações com queratina, selagem ou botox devem passar longe da cabeça, alertou a profissional. “Shampoo neutro e condicionador, só isso. Para a escova progressiva sair mais rápido pode ainda usar shampoo anti-resíduos”, indicou.
