Cueca cavada, boxer, samba-canção, colorida ou justa. A peça íntima masculina ultrapassou a linha entre a necessidade e a vaidade dos homens. A cueca se tornou o que a lingerie é para as mulheres: um símbolo sexual. A indústria sabe bem como usar este contexto em corpos sarados para atrair as mulheres. Isso mesmo, apesar de o traje ser masculino, são elas o público-alvo das campanhas publicitárias.
De acordo com a gerente de marketing da Zorba, Rosana Lourenço, “75% das compras de cuecas são feitas por mulheres”. E elas estão cada vez mais exigentes. O modelo slip – peça inspirada na calcinha, mas com laterais mais largas e espaço dianteiro – ainda é o mais tradicional, por conta do preço baixo, segundo ela. Mas nos últimos três anos o consumo do modelo boxer – mais caro e menos cavado – cresceu 13%. “Em uma pesquisa, de cada dez mulheres, oito declararam preferir o modelo boxer. E elas estão comprando o que querem ver no marido e namorado”, disse a gerente.
Entretanto, as coisas nem sempre foram assim. No tempo do homem das cavernas, não existia algo que se possa chamar de cueca, mas os Neandertais usavam roupas íntimas. De acordo com o especialista em moda João Braga, visualmente a “tanga” não tem qualquer relação com a roupa de baixo contemporânea. “Não existia o conceito de roupa de baixo, a tanga era uma coisa que eles usavam para cobrir o corpo, feito de pele de animais, então podia ser uma coisa curtinha ou um vestido, dependendo do tamanho do animal que foi morto”, explicou o autor do livro História da Moda no Brasil – das influências às autorreferências.
Na Idade Média, os homens passaram a usar tecidos amarrados pelo corpo para cobrir os órgãos sexuais. “Parecia uma fralda, como vemos na Grécia Antiga”, cita Braga. Segundo ele, a vestimenta pode ser observada na iconografia dos santos que morriam na fogueira apenas com as “roupas íntimas”. Em imagens da igreja católica é comum ver as imagens sagradas com o corpo coberto por uma espécie de manto.
Camisola é roupa de mulher, mas antigamente, por volta do século XVII, os homens não perdiam a masculinidade por usar “vestidos” para dormir. De acordo com Braga, “a roupa de baixo nesta época era o próprio pijama, uma camisola”. Os homens dormiam com a camisola, acordavam e colocavam os trajes por cima. “Os europeus usam até hoje”, disse Braga. Somente no século seguinte, a camisola ganhou uma bifurcação na parte de baixo e começou a se assemelhar à bermuda. Surgiu então a famosa ceroulas, usada no século 18 e início do 19, nas regiões frias. Elas eram feitas de flanela ou algodão e cobriam os joelhos.
Com o tempo, as cuecas ficaram mais curtas, semelhantes ao atual modelo samba-canção. No período pós-Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), os shorts ainda eram tendência na moda íntima masculina. Em 1944, o modelo slip – como se fosse uma calcinha com as laterais mais largas – chegou ao Brasil e começou a tomar o espaço dos shorts íntimos.
A revolução das cuecas
É na década de 1960 que a simbologia das peças íntimas masculinas iniciou a transformação. “Com a chegada da moda unisex as cuecas ficaram mais justas e com o tecido mais flexível”, explica Braga. O estilista Calvin Klein revolucionou a moda masculina com propagandas provocantes que deram o caráter sexy às cuecas.
O auge da moda íntima masculina aconteceu nos anos 1980, segundo o especialista em moda, quando surgiram modelos diferentes em tecidos cada vez mais avançados. Atualmente, as cuecas são lingeries masculinas, escolhidas pela beleza, conforto e sensualidade.