O Couch Surfing incentiva a hospitalidade e hospedagem de graça entre os membros da rede internacional
Imagine fazer parte de uma rede mundial que oferece estadias gratuitas em sofás de qualquer canto do mundo. Pode soar estranho a princípio, mas para quem gosta de desbravar continentes com um mapa na mão e uma mochila nas costas, a ideia de não pagar pela hospedagem e ainda fazer amizade com gente que conhece bem o local da visita pode ser ótima. Tanto que já foi colocada em prática no site Couch Surfing, ou, em português, surf de sofá.
Em uma explicação resumida, pode-se dizer que o Couch Surfing é um site em que as milhões de pessoas inscritas disponibilizam o sofá de casa para receber viajantes do mundo inteiro, sem cobrar nada por isso. “É uma espécie de intercâmbio cultural sem interesses comerciais. O lucro é proibido no Couch Surfing”, explica o embaixador do programa em São Paulo, Saulo Adriano. Segundo ele, quem hospeda o viajante ainda dá dicas de turismo pela cidade, informações culturais e curiosidades sobre o país.
Saulo conta que o CS começou na década de 1990. “Um universitário americano chamado Casey Fenton ganhou uma passagem aérea para a Finlândia, mas não tinha lugar pra ficar”, lembra o embaixador. Por isso, Casey enviou e-mails para diversas pessoas do país contando a sua situação. “Por incrível que pareça, Casey recebeu várias respostas de gente o convidando para ficar hospedado nas casas das pessoas, no sofá”. Então, quando o universitário voltou da viagem, revelou a dois amigos a ideia que teve e os três montaram o Couch Surfing, em 1999.
A rede cresceu e já atinge o número de 2,6 milhões de usuários em mais de 230 países e territórios. Os Estados Unidos lideram o ranking de nações com mais adeptos ao programa, com 20.9% do total de couchsurfers do mundo. O Brasil aparece em oitavo lugar, com 2.7% de inscritos na rede. A maioria dos participantes tem entre 18 e 24 anos, e as pessoas com idades entre 25 e 29 anos representam 32% do total.
CS pelo mundo
O vendedor italiano Claudio Dondi, 41 anos, foi apresentado ao Couch Surfing há um ano, mas achou difícil encontrar uma casa com sofás o suficiente para abrigar também a esposa e os filhos. Por isso, ele decidiu receber os couchsurfers. Desde que se cadastrou, seis pessoas já passaram pelo sofá dos Dondi. “Eu hospedei duas garotas holandesas, um casal mexicano e duas meninas da Espanha. Foram experiências maravilhosas”, conta. O que Claudio deixa claro é que o CS não é apenas uma forma barata de viajar, como todo mundo pensa, mas também é “movido por um espírito cultural e não econômico”.
Já o estudante de arquitetura venezuelano Isamel Cabarcas, 19 anos, nunca recebeu ninguém, mas viajou à Colômbia no final do mês de março. Isamel conta que a experiência foi totalmente diferente de uma viagem como turista. “Quando você fica na casa de alguém, sempre tem uma pessoa para te ajudar, mostrar a cidade, e é como se fosse uma amizade”, diz ele. Os membros da rede internacional ajudaram Isamel durante a viagem pela Colômbia e, segundo o estudante, existe um vínculo de confiança entre couchsurfers. “É uma comunidade”, classifica.
A francesa Cardigon Codling, 18 anos, vai fazer a primeira viagem no final deste mês. O destino é o sul da França. A estudante está animada e sem qualquer receio de se hospedar no sofá de um membro que ela não conhece pessoalmente. Cardigon diz confiar nos couchsurfers, pois são pessoas com uma mesma ideologia. “O importante é gostar de conhecer novas pessoas e estar pronto para se divertir e aproveitar a viagem”, diz. E isso ela está disposta a fazer.
Couchsurfers em SP
Em cada região do mundo existe uma comunidade criada por moradores que ajudam e orientam os estrangeiros. Em São Paulo não é diferente. São organizados encontros e eventos com tópicos que respondem as dúvidas dos visitantes. Na capital paulista acontece uma reunião toda terça-feira, a partir das 19h, no Açaí Beach Bar, na rua Augusta. De acordo com o embaixador Saulo Adriano, o evento é organizado para os couchsurfers, mas as pessoas que se interessam em conhecer o programa podem comparecer.
A panamense Balkys English veio passar um mês no Brasil para estudar português. Ela é embaixadora do CS no Panamá e estava presente no evento da última terça-feira (5). É a segunda vez que ela viaja para dormir no sofá de um desconhecido e Balkys gosta bastante do projeto. “O Couch Surfing é um ato de fazer favores. Você dá e em algum momento recebe”, completa.