Ao adquirir uma enzima, a bactéria Klebsiella Pneumoniae se tornou resistente ao grupo de antibióticos betalactêmicos, incluindo os carbapenems – os mais potentes contra infecções – e pode se tornar insensível aos três únicos antibióticos que restaram para o seu tratamento.
De acordo com a infectologista Ana Cristina Gales, apenas os antibióticos aminoglicosídeo, polimixina e tigeciclina ainda combatem a bactéria que ficou conhecida como Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC). “Ela pode se tornar resistente aos outros e aí não tem saída, não tem como tratar (…) o nome de superbactéria não é porque ela é mais forte, mas porque se ela ficar resistente não tem como tratar a infecção. Ela mata mais porque reduz as opções de tratamento”, explicou Ana.
A KPC pode afetar qualquer órgão, no entanto, os casos mais frequentes são pneumonia e infecção urinária, segundo a infectologista. O microorganismo foi diagnosticado pela primeira vez em 1996, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
Recentemente, a presença da KPC foi identificada no Hospital das Clínicas, em São Paulo. A instituição, no entanto, negou que exista um surto desta bactéria, apesar de confirmar que 70 pacientes foram diagnosticados com o microorganismo, desde 2009. O HC informou que a bactéria não causou morte de internos.
Em nota, o hospital informou que “o número de casos foi controlado da mesma maneira que para outros organismos multi-resistentes comuns em ambientes hospitalares”. O hospital ainda divulgou que os pacientes infectados ou colonizados foram isolados para o controle do agente.
A boa notícia é que a KPC é uma bactéria hospitalar e, portanto, não oferece risco à comunidade, desde que a pessoa não seja hospitalizada, segundo Ana. A infectologista disse que se os hospitais tomarem as medidas de prevenção, a bactéria pode ser controlada. “Lavar as mãos antes de examinar os pacientes, evitar mexer nos pertences do interno e isolar os infectados, pode ajudar a conter a proliferação”.
Uma preocupação da infectologista é que a enzima adquirida pela bactéria é altamente transmissível a outros microorganismos. “Ela pode transmitir esta características e fazer mais bactérias insensíveis a antibióticos”, disse. Por este motivo, Ana enfatizou a importância do controle da KPC.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, não há surto da KPC no Estado e a bactéria é comum em ambientes hospitalares. A Secretaria ainda disse que é feito um trabalho de controle de qualidade e higienização nos hospitais e que a população não corre risco de contrair a KPC.
No Distrito Federal, 14 morreram
Diferente da situação apresentada pelos órgãos oficiais de São Paulo, o surto da bactéria KPC no Distrito Federal foi confirmado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). São 163 pessoas infectadas e 14 já morreram por conta do microorganismo.
A Anvisa informou que houve outras mortes em que a pessoa era portadora da KPC, mas que os médicos atribuíram o óbito ao quadro de outra doença grave. Os casos aconteceram na unidade de terapia intensiva de oito hospitais privados e nove públicos.
Em relação aos outros Estados, a Anvisa afirmou que solicitou informações da situação às secretarias de saúde, mas até a tarde desta sexta-feira, elas não haviam enviado. Procurado pelo Terra, o Ministério Público não quis falar sobre o assunto.