Os furtos de laptops e outros aparelhos eletrônicos em aeroportos e hotéis ocorrem, na maioria das vezes, quando o dono descuida do aparelho por alguns instantes. De acordo com o titular da delegacia da polícia civil do aeroporto internacional de Guarulhos – o mais movimentado do Brasil, segundo a Infraero – 99% das vítimas deste tipo de furto estão distraídas e relaxadas no momento do crime. Para o delegado Ricardo Guanaes Domingues, as pessoas se sentem seguras ao entrar no saguão e se tornam “menos vigilantes com os seus pertences”. Neste ano, foi presa uma quadrilha de venezuelanos e uma de peruanos.
Segundo o delegado titular da delegacia do aeroporto de Congonhas, – o segundo mais movimentado do País, de acordo com a Infraero – Marcelo Palhares, os autores são, geralmente, latinos e bem vestidos. “Na semana passada pegamos um casal de Colombianos”, afirmou ele.
Os corredores do aeroporto de Congonhas são vigiados por cerca de 170 câmeras, 24 horas por dia. Além da polícia militar, que se encarrega da segurança nas calçadas do aeroporto, policiais civis disfarçados caminham o dia todo entre os passageiros. “Se tiver alguém sem bagagem, de bobeira, nós abordamos, perguntamos o que a pessoa está fazendo, para onde vai e checamos os antecedentes”, disse o delegado.
Mesmo assim, acontecem, em média, dois furtos de laptops por mês, dentro do aeroporto. Assim como em Cumbica, os registros das ocorrências apontam para o descuido com o objeto. “A maioria dos relatos é de que a pessoa deixou por alguns instantes ou se distraiu por alguns segundos e o aparelho sumiu”, disse Palhares. Quando a polícia vai assistir as imagens da câmera de segurança, mais uma vez, constatam que os ladrões de laptops se aproveitam de um instante de desatenção para levar os aparelhos.
Uma das câmeras flagrou o momento em que um passageiro deixou o seu carrinho com as bagagens no corredor da livraria de Congonhas e se afastou para olhar os produtos. Segundos depois, o ladrão entrou, pegou uma das malas e saiu tranquilamente. De acordo com Palhares, a vítima só se deu conta do furto quando teve de tirar as malas do carrinho. “É um problema do mundo inteiro, não existem quadrilhas especializadas nisso”, disse ele.
Apesar da segurança, a ocasião para que o crime ocorra é facilitadora. É comum encontrar malas sozinhas nas mesas da lanchonete do aeroporto de Congonhas, enquanto os donos compram a refeição; pessoas que dão as costas à mala por minutos seguidos enquanto fazem o check-in ou deixam os pertences em carrinhos encostados em qualquer lugar do aeroporto para ler revistas. Nestes descuidos, o ladrão age sem dificuldade.
As vítimas, geralmente, são executivos que viajam a trabalho, segundo o delegado. Por conta disso, é uma prática sazonal que aumenta de fevereiro a junho e agosto a novembro. Já nos períodos de férias, o número de casos diminui, pois os empresários não freqüentam os aeroportos com tanta intensidade. Tanto que, enquanto em fevereiro não foi registrado qualquer furto de laptop, em março, ocorreram três.
O terceiro maior aeroporto do País, Juscelino Kubitschek, em Brasília, registrou seis furtos de laptops em 2009. Porém, de janeiro a setembro de 2010, a polícia registrou apenas uma ocorrência.
O aeroporto internacional Galeão, no Rio de Janeiro, tem os número de furtos de laptops estáveis. De janeiro a abril, foram registrados um crime por mês. Em maio e junho, aconteceram dois furtos em cada mês.
De acordo com a polícia civil do aeroporto internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, os furtos de laptops ou “furtos de descuido”, como eles chamam, estão cada vez menos frequentes no complexo. Desde a prisão de três peruanos que cometiam o crime, em março, nenhuma ocorrência foi registrada. Os últimos casos aconteceram em janeiro, quando dois passageiros foram vítimas de furto de laptops.
A polícia civil do aeroporto internacional de Guarulhos não forneceu o número de furtos de laptops registrados no complexo. A central de estatísticas da polícia civil de Salvador informou que não faz este tipo de levantamento, pois os casos de furto de laptops são isolados e pouco decorrentes no local.
Trabalho policial
Com as câmeras de segurança, fiscalização e policiamento cada vez maior, os furtos dentro dos aeroportos estão cada vez menos decorrentes. “Nós ficamos em contato com todos os outros aeroportos e com a delegacia responsável pelos hotéis, em situações de flagrante, trocamos as fotos dos suspeitos para que eles não possam agir em outros locais”, explicou Palhares. Como é um crime sem abordagem, que usa o oportunismo, policiais da equipe de Palhares fazem o trabalho de investigação disfarçados.
Além disso, existe o trabalho de prevenção em que os funcionários instruem os passageiros a ter mais cuidado com os pertences. No aeroporto internacional de Guarulhos, por exemplo, Domingues afirmou que a polícia circula pela área interna e chama a atenção de quem deixa malas ou objetos descuidados. “Estamos tendo um resultado positivo com este trabalho de prevenção”, disse ele.
O conselho da polícia é que os passageiros procurem não perder de vista a bagagem; não deixar maletas na prateleira de cima do carrinho, pois são alvos mais fáceis; não deixar a bagagem sozinha; checar se não esqueceu algum pertence antes de embarcar e ficar atento às malas todo o tempo.
Novo alvo: hotéis de luxo
No dia 2 de setembro, a polícia prendeu parte de uma quadrilha especializada em furtos de bagagem e laptops nas recepções de hotéis de luxo em São Paulo. De acordo com a polícia, o alvo principal são empresários, economistas e administradores hospedados na cidade a negócios.
Para o delegado titular da Delegacia Especializada em Atendimento ao Turista (Deatur), Carlos Alberto Achoa Mezher, o número de furtos de laptops nos hotéis ainda é bem menor do que os que acontecem nos aeroportos. “Perto dos aeroportos, a incidência nos hotéis é zero”, disse ele.
Para Mezher, não há uma migração dos ladrões para a rede hoteleira da capital e, sim, uma ação conjunta. Segundo o delegado, os mesmo ladrões que atuam nos aeroportos, furtam nos restaurantes, hotéis e shoppings. “Quando ficam visados em um local, mudam”. Às vezes, de acordo com o delegado, os ladrões chegam a se hospedar no hotel para efetuar os furtos.
Assim como nos aeroportos, Mezher disse que nos hotéis as ações também ocorrem em poucos instantes de distração. “Todos os meus boletins dizem que houve um descuido por alguns segundos, a pessoa deixou a maleta em cima de algum lugar por três segundos e, quando olhou não estava mais lá”. Por isso, a dica que o delegado dá para os turistas é sempre prestar atenção e cuidar dos pertences em qualquer ambiente de convívio público. Segundo ele, se a pessoa não tirar o contato visual ou direto com o objeto, a ação do ladrão é dificultada.