ECONOMIA

Moeda fantasia fortalece comércio na periferia de SP

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Mais perto, mais barato e estimulante para o crescimento econômico da região. Estes são os princípios da moeda fantasia criada para circular dentro de uma comunidade carente. O câmbio é o mesmo para o real, não há risco de inflação e, além de aumentar o lucro dos comerciantes locais, os moradores podem economizar com a medida. “O quilo do pão custa cinco, mas se me der em sampaios faço 4”, conta a psicóloga e pesquisadora da Universidade de São Paulo, Juliana Braz, sobre como funciona o comércio no Jardim Maria Sampaio, bairro periférico da zona sul de São Paulo.

A ideia, no entanto, não é dos paulistanos. O Banco Comunitário Palmas foi o pioneiro a instalar o sistema de moeda social na favela Conjunto Palmeira, na zona sul de Fortaleza. O objetivo é fazer o morador gastar o que ganha no próprio bairro e não em outras regiões, para, desta forma, ajudar o desenvolvimento econômico local, explica Juliana. “Reorganizar a produção e consumo da comunidade e criar um trabalho em rede”, completa ela sobre as intenções do programa. Atualmente, mais de 50 regiões já aderiram ao sistema.

Em São Paulo, a pesquisadora cita as moedas sampaio (da comunidade Jardim Maria Sampaio) e apuanã (do Jardim Apuanã) como as principais da capital. O sistema funciona da seguinte forma: os moradores do Jardim Maria Sampaio, por exemplo, vão ao banco e fazem o empréstimo de uma quantia de sampaios. Os comércios que aderiram ao programa têm de aceitar que a aquisição da mercadoria seja paga com esta moeda social. Com isso, os moradores deixam de ir a um hipermercado em outro bairro, para comprar no “mercadinho” da comunidade. “O Banco Comunitário consegue injetar dinheiro, fazer a moeda circular e fazer com que o dinheiro fique lá”, o que culmina no desenvolvimento da região, afirma a pesquisadora.

Só no Banco de Sampaio, mais de 30 comerciantes aderiram ao programa. O vínculo com o Banco do Brasil ainda possibilita empréstimos em reais, geralmente, concedidos aos comerciantes que querem investir na melhoria dos negócios. Neste caso, é cobrado taxa de juros entre 2% e 4% ao mês, de acordo com Juliana.

Porém, por trás disso, há um trabalho educativo na comunidade. Juliana explica que o banco não fornece empréstimos para “ganhar em cima do cliente”, mas sim, tenta acompanhar os gastos do morador e o aconselha como melhor administrar o dinheiro.

A ideia é tão eficaz que “um banco no Piauí paga aos servidores públicos 80% do salário em reais e 20% na moeda social deles, para garantir que parte do dinheiro seja gasto na região”, diz Juliana. O sistema referido é o adotado pelo Banco Comunitário Cocais, em 2007, em São João do Arraial, uma cidade no interior do Piauí onde grande parte da população vive abaixo da linha da pobreza. Na região, a aceitação foi de 98% dos comerciantes.

Na economia
O economista Felipe Bunnitz, da Fundação Getúlio Vargas, só vê vantagens no processo de fortalecimento da economia local. “A visão que eu tenho é que a comunidade é um balde furado, o dinheiro chega, o bairro tem dinheiro, mas o balde está furado, porque o dinheiro todo vaza, as pessoas vão comprar fora do balde”. Segundo ele, o projeto é um processo de amadurecimento do empreendimento local para que ele seja inserido na economia global, posteriormente.

Bunnitz não considera os possíveis prejuízos dos grandes estabelecimentos que hoje detém o monopólio das vendas de alguns produtos como graves. “Mesmo se este comércio tiver de fechar, a descentralização da economia vai proporcionar mais vagas de empregos”, disse ele. O economista não acredita em isolamento, mas no fortalecimento de cada região “como fez os EUA”. “A moeda social não é substituta, é complementar”.

**TERRA

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