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Cerca de 150 pessoas passaram a noite no prédio da reitoria da USP na madrugada desta quarta-feira, ocupado desde as 10h de ontem. De acordo com o diretor de base do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho, até agora não houve intervenção policial ou da administração da universidade. “Também não recebemos nenhum contato do reitor, fora o comunicado oficial que ele soltou”, afirmou Magno.
A assessoria de imprensa da reitoria da USP informou que “lamenta a invasão” ocorrida no prédio da Administração Central. Ressaltou também que foram feitas quatro reuniões entre a Comissão de Negociação da Reitoria e os representantes do Sintusp e, na última delas, foi apresentada uma proposta de acordo para o fim da greve, rejeitada pelo Sindicato. O acordo proposto determinava que, se os funcionários voltassem a trabalhar no dia 7, última segunda-feira, os valores descontados dos salários dos grevistas seria pago no dia 10, na quinta-feira.
Em entrevista à Rádio CBN, o reitor da USP, João Grandino Rodas, classificou como “violenta” a ocupação feita pelos manifestantes, por conta da destruição de paredes e portas. Ele afirmou que a atitude mostra “como a USP vem sofrendo nos últimos anos na mão de um punhado de pessoas que são sindicalistas mas que não deixaram esses movimentos que eram próprios dos anos 60 e 70 e continuam como se estivessemos até hoje na ditadura”. Rodas disse que o corte nos salários dos grevistas foi avisado; em relação ao reajuste salarial afirmou que não se trata de uma decisão só sua, mas do Conselho de Reitores.
O reitor informou que dos R$3 bi do orçamento anual da universidade, 85% são destinados ao pagamento de salários. “O salário médio das pessoas que não têm uma qualificação especial é de R$ 2.044,00. (…) O salário de médio de uma pessoa com curso técnico, pedreiro, eletricista é de R$ 3.579”, disse. Além disso, Rodas afirmou que os funcionários recebem ajuda para o pagamento das compras de supermercado, escola, educação especial, transporte e saúde.
O diretor de base do Sintusp, Magno Carvalho, informou que os funcionários vão manter a ocupação até que sejam pagos os salários integrais de quem não recebeu e a reitoria abra espaço para retomada das negociações. A greve que já dura mais de um mês teve início por conta do reajuste de 6% dado aos docentes, além dos 6,57% oferecido a todos os servidores das universidades paulistas. Os funcionários estão paralisados desde o dia 5 de maio e reivindicam que o mesmo benefício seja concedido a eles, garantindo a isonomia em termos de reajuste salarial.
Já a ocupação do prédio da reitoria se deu por conta do corte do ponto de duas unidades operacionais ligadas à reitoria. A medida cortou o salário de cerca de mil funcionários. O auxiliar de serviços gerais da Escola de Comunicação e Artes (ECA), Domenico Colaricco, participa da manifestação desde o primeiro dia da greve. Ele também aderiu à ocupação e passou a noite de terça-feira no prédio da reitoria. “Era uma ameaça que pairava já sobre a greve, a reitoria já havia avisado”, disse ele. Na última semana, segundo ele, aconteceram quatro reuniões. “Nas duas primeiras a reitoria concordou em não fazer o corte nos salários, na terceira condicionou o pagamento total dos salários ao fim da greve, aí falamos que não estávamos em greve por causa do corte”, afirmou. Na última quarta-feira, então, Colaricco disse que foi apresentado um documento em que oficializava a decisão. “Consideramos uma ameaça, não podíamos aceitar”, afirmou sobre o motivo da recusa do acordo.
Foram levados colchões e roupas de cama ao prédio da reitoria, para melhor acomodar os ocupantes. De acordo com o funcionário, as refeições estão sendo preparadas no Sindicato e são levadas até o local ocupado ao longo do dia,”é o que a gente chama de x-greve”, disse.
Enquanto não recebem uma resposta da reitoria, os participantes da greve organizam formas de reaver parte dos salários daqueles que não receberam. Na noite desta terça-feira, foi realizado um show com três atrações em frente ao prédio ocupado. “O valor arrecadado será destinado aos funcionários que não receberam”, afirmou o diretor de base do Sintusp, Magno de Carvalho. Ele estima que cerca de 600 pessoas participaram do evento que terminou pouco antes de amanhecer. Com isso, mais pessoas aderiram ao movimento e se integraram à ocupação, segundo Colaricco. Na tarde desta quarta-feira o professor de Sociologia, Francisco de Oliveira, levou seus alunos para ter aula no prédio.
Além disso, ficou decidido, na Assembleia de terça-feira, a doação de 6,57% do salário de cada funcionário que não teve o pagamento cortado. “Claro que é voluntário, mas as pessoas estão colaborando com o que podem para ajudar os outros”, disse ele. Durante a ocupação de ontem, o Sintusp também distribuiu papeis com uma conta bancária para os presentes colaborarem com doações.
Na quinta-feira às 10h acontecerá uma audiência pública no prédio da Assembleia Legislativa de São Paulo para resolver a “crise universitária”, de acordo com o deputado Carlos Giannazi, quem organizou a reunião. Para o encontro, foram convocados os reitores da USP, Unicamp e Unesp; representantes do Sintusp e alunos. Serão discutidos problemas das uiversidades públicas, assim como a greve dos funcionários.
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