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Um dos mais importantes precursores da bossa nova tenta vencer o câncer num hospital público de Santo André
Talvez Johnny Alf não esteja entre os primeiros nomes que vêm à cabeça quando se pensa em bossa nova, já que Tom Jobim, Baden Powell, Vinícius de Moraes, João Gilberto e outros tomaram a cena nas décadas de sucesso de um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo. No entanto, entre estes famosos personagens da bossa, o cantor e compositor é visto como inspiração e considerado um dos mestres do ritmo; o “Genialf” – como Tom Jobim o chamava.
Ele estava ali desde o começo do movimento na década de 50, tocando seu piano numa mistura de sambas de Caymmi com Dave Brubeck ou Ary Barrosos com Cole Porter. Porém, quando os holofotes apontaram para os artistas do Rio de Janeiro, Alf se retirou para São Paulo e continuou suas composições, mais afastado das câmeras e páginas de jornal. Hoje não é diferente, Johnny Alf foi lembrado em seu último aniversário, quando completou 80 anos em 2009 e depois não visitou mais a imprensa.
Enquanto isso, o cantor e compositor passa por uma dura luta contra o câncer de próstata instalado em seu corpo há três anos. “Não acreditamos mais numa melhora, só por estar estacionado já é uma vitória”, afirma seu produtor e empresário Nelson Valencia. Segundo Valencia, Alf tem apenas se sentido abatido nos últimos dias. É um alívio para o produtor já que, no mês de dezembro, o artista chegou a precisar de doadores de sangue para enfrentar uma fase mais agressiva do tratamento contra o tumor. Por conta da quimioterapia, Alf ficou com baixa imunidade e teve que fazer uma série de transfusões de sangue. Para isso, precisava de doadores que repusessem o banco de sangue do hospital público Mário Covas, localizado em Santo André, no Grande ABC.
Felizmente, esta fase já passou e Alf não está mais fazendo as transfusões, mesmo assim, de acordo com o produtor, ele está sem condições de retornar à agenda profissional. Sua última apresentação aconteceu em 2009, no SESC Vila Mariana. O “Rapaz de Bem” ainda tem que lidar com problemas financeiros, que nada facilitam o tratamento; tanto que ele teve de ser encaminhado ao hospital público de Santo André. Sem aposentadoria, hoje, Alf vive de uma poupança e dos direitos autorais dos sucessos “Rapaz de bem”, “Fim de Semana em Eldorado”, “Céu e Mar”, “Eu e a Brisa”, entre outras jóias que ele compôs.
Sem parentes, o apoio e companhia ficam por conta dos amigos conquistados ao longo da sua carreira. Aos 80 anos de vida e 66 de música, Alf influenciou músicos como Carlos Lyra, Tom Jobim, Baden Powell, Claudette Soares, Roberto Menescal, Lito Robledo, Alaíde Costa, Ed Motta, Emílio Santiago, Leny Andrade; alguns deles companheiros do artista até hoje.
A bossa de Johnny Alf
Ainda aos nove anos, Johnny Alf começou a estudar piano, no entanto, logo deixou a música erudita para mergulhar de cabeça na música popular, interessado pelo jazz de Nat King Cole e George Gershwin. Alguns anos depois, formou seu primeiro grupo musical no Instituto Brasileiro Estados Unidos, foi então que abandonou seu nome de batismo, Alfredo José da Silva, para se tornar o grande Johnny Alf. Ele fez parte do Sinatra Farney Fan Club, um clube de intercâmbio musical entre o Brasil e Estados Unidos, com membros como Tom Jobim, João Donato e Bebeto Castilho. Já nos anos 50, seu trabalho começou a ganhar o reconhecimento de João Gilberto e Dolores Duran.
Em meados da mesma década, enquanto a bossa nova estourava no Rio de Janeiro, o artista se mudou para São Paulo. Apesar de se afastar bem no momento em que o movimento ganhava força, Alf foi destaque na bossa nova paulistana. Em 1961, lançou uma de suas músicas de mais sucesso, “Rapaz de Bem”, conhecida e regravada no exterior. Entre outras composições suas que ficaram marcadas na história da bossa nova está a trilha sonora da novela Anjo Mau, “O que é Amar”; mais uma obra de Johnny Alf.
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