ENTRETENIMENTO

Os assassinos da Ditadura

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Exposição traz memórias das pessoas que deram fim ao regime militar e instauraram a democracia

Estacao institucionalEm homenagem aos vinte anos do fim oficial da ditadura militar no Brasil, a Estação Pinacoteca oferece a exposição “Memórias da Resistência”. O Regime Militar permaneceu no Brasil de 1964, teve o general Castello Branco no poder até 1985, e, após este, José Sarney, que assumiu com a morte de Tancredo Neves. A participação da museóloga Maria Cristina Bruno foi fundamental na construção da exposição “Memórias da Resistência” para a consolidação de ideias, no que se refere às dificuldades relativas à preservação de fatos tão importantes e, ao mesmo tempo, camuflados no contexto histórico do país.

A escolha do local não foi ao acaso. A atual Estação Pinacoteca foi sede do DEOPS – Departamento Estadual de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo. De 1940 a 1983, a construção foi palco de aprisionamentos e torturas movidos pela ditadura. Segundo Maurice Politi, ex-preso político, nos anos 90 as celas foram pintadas com o objetivo de apagar o sofrimento. “Eles nomearam o local de ‘Memorial da Liberdade’, lutamos muito para mudar o nome para ‘Memorial da Resistência’”, conta Maurice.

A exposição disponibiliza um acervo com toda a história política do país em computadores, além das fotos e fatos nas paredes. Vídeos que ilustram os documentos dos presos políticos e suas fichas de cadastro no DEOPS mostram que, muitos dos detidos eram considerados “terroristas” pelo departamento. A gravação da missa em homenagem à morte do jornalista Vladimir Herzog, mostra a história do jornalista na luta pela democracia. Em 1975, ele foi chamado para depor sobre seu envolvimento com o comunismo e, no mesmo ano, encontrado enforcado por um cinto na prisão. Sua morte foi um marco do início da luta pela democratização.

Porém, o local que mais chama a atenção dos visitantes é a parte que foi reconstruída, com base nos relatos de ex-presos do DEOPS que, para não deixar escapar nenhum detalhe, voltaram ao local. Dentre eles, está Maurice Politi, que conta que não foi difícil voltar ao local, pois já superou o acontecido. “Damos muitas palestras sobre aquelas pessoas que foram lá e resistiram”, diz.

Além do corredor onde, durante o confinamento, os presos tomavam banho de sol, o grupo reconstituiu as celas: um ambiente quente e escuro com as paredes marcadas por nomes de pessoas que passaram por ali. Dentre os registros, um chama a atenção dos visitantes: Monteiro Lobato. Conhecido mundialmente e pioneiro da literatura infantil brasileira, o autor dos personagens de “O Sítio do Picapau Amarelo” ficou detido no DEOPS por seis meses em 1941.

Para a museóloga, Maria Cristina, a parte dos porões é a mais chocante: “Os ‘porões’ da ditadura foram muito mais profundos, mais cruéis e mais corruptos do que eu imaginava”. Além de toda a parte visual, a exposição oferece em uma sala fones com o áudio dos depoimentos de alguns sobreviventes do DEOPS. Maurice acha importante deixar claro que eles não são vítimas, nem heróis: “Fizemos o que tinha que ser feito”, diz e completa: “Queremos, apenas, que a juventude saiba que se hoje existe democracia é porque muita gente deu a vida por isso”.

A museóloga concorda com Maurice nessa questão. Para ela, a preservação da memória revela fatos do passado que ajudam a melhor compreender o presente. “Os museus e outras instituições congêneres são importantes, pois lembrar é resistir!”, afirma. Após o fechamento do DEOPS, em 1983, os documentos foram doados à Polícia Federal e, em 1995, ao Estado. Mário Covas, governador na época, autorizou a abertura dos documentos, o que atrai até hoje pessoas para pesquisar fatos da ditadura e as ações do DEOPS.

Memórias da Resistência
Estação Pinacoteca
Seg. à Sab. Das 10h às 17h

** OESTADORJ

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