ENTRETENIMENTO

Carmem: uma mulher vezes três

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A artista que apimentou a música, o cinema e a moda brasileira completaria cem anos

Divulgação
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Há cem anos nasceu uma das artistas mais reconhecidas no âmbito nacional e internacional. Com seu jeito extravagante, irreverente e original, Maria do Carmo Miranda da Cunha partiu de Portugal rumo ao Brasil ainda criança. Passado a infância, a cantora, que já trilhava o caminho da arte, estourou em 1930 com a marchinha “Pra você gostar de mim”. Para o pianista e produtor cultural Fábio Caramuru, Carmem Miranda colocou em relevo a figura feminina. Segundo ele, não existia nenhum artista com aquele perfil, pois “ela criou uma persona, um ícone, um personagem”, explica.

O pianista conta que não consegue desvincular a imagem dela de sua música. Segundo ele, o modo como ela articulava as canções, velocidade e timbre atrelados à expressão facial e interpretação fizeram da cantora uma inovação no meio musical. “Ela soube usar da imagem para reforçar ainda mais sua música”, afirma. Além disso, Caramuru explica que a sensualidade e rebolado de Carmem abriram portas para o universo feminino daquela época. “Nos anos 30, as mulheres eram muito reprimidas, a Carmem ficou em primeiro plano”, explica.

Carmem se sobressaiu e alcançou a independência financeira, quase impossível para as mulheres naqueles anos, segundo Caramuru: “Ela foi o pontapé inicial para a mulher brilhar”. Ele acredita que o sentimento que Carmem passa é de que “o Brasil pode dar certo”, por isso é lembrada como uma figura doce, agradável e de orgulho para o país.

No cinema

Em 1936, a até então cantora, estreou no cinema com o filme “Alô, alô carnaval”. Em 1939, a “Pequena Notável” já fazia sucesso em um musical em Boston: “Streets of Paris”, Carmem chegou a se apresentar para o presidente Franklin Roosevelt, na Casa Branca. Ao final de sua carreira, Carmem Miranda já havia feito vinte filmes, muitos deles norte-americanos.

O cineasta Máximo Barro ainda se lembra da primeira vez que foi assistir a um filme de Carmem. “Fui vê-la depois de 1950, na Filmoteca em São Paulo”, lembra. Ele conta que anos antes, em meados dos anos 30, Carmem Miranda era só o que se ouvia nas rádios e, quando chegou ao cinema, sentiu a mesma presença marcante dos discos e das fotos da artista sempre com as mãos para cima.

Na América do norte, Carmem tinha uma presença magnética. Máximo explica que ela deu início a entrada da cultura sul-americana em outros países. “Apesar de ter um inglês impecável, Carmem fazia questão de cantar em português nos filmes norte-americanos”, comenta. Para o cineasta, Carmem brilhou até mais no cinema do que em sua carreira musical. “Ela era imitada por todo o mundo”, lembra. Segundo Máximo, artistas como Wood Allen e Cacá Diegues fizeram filmes imitando Carmem Miranda.

Porém, ele lamenta que depois dos anos 70, pelo menos no cinema, Carmem deixou de ser aquela que sempre inovava. “Meus alunos a ignoram, os discos já não vendem mais, infelizmente ela virou do passado”, afirma Máximo.

Na moda

Com suas cores, extravagância e alegria, Carmen levou ao público internacional um pouco de brasilidade, e para a moda foi um ponto de inspiração, sendo revisitada até hoje.

A consultora de moda Claudia Manhaes explica que ao longo dos anos a Carmem vem sendo inspiração de grandes estilistas, trazendo sua personalidade para a mulher de hoje: “Um exemplo são as sandálias plataformas, braceletes e colares gigantes, peças com tecidos trabalhados no corpo, babados e brilhos”, explica Claudia.
A consultora ainda conta que a artista é fonte de inspiração de moda para as drag queens.

Para ela, Carmem foi um fenômeno que se transformou em símbolo de luta e atitude. “A coleção que tiver Carmen Miranda como inspiração ganhará pontos com os críticos de moda e com certeza será sucesso de vendas, até pelas cores fortes que tem tudo a ver com o Brasil”, afirma. Como exemplos, ela cita Salinas, Sta. Ephigênia e Carlos Tufvesson, que, recentemente, brilharam nas passarelas com a Pequena Notável.

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