CRIME

A folha que movimenta milhões

 

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O narcotráfico está presente em mais de 153 países reconhecidos pela ONU

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O consumo de cocaína no Brasil cresceu mais de 30% nos últimos seis anos, atinge 870 mil pessoas. De acordo com os dados da ONU, hoje a droga está presente em 80% dos países. Segundo Osvaldo Coggiola, graduado em História e Economia pela Universidade de Paris VIII, a cocaína chegou à América do Sul junto ao desemprego. No caso da Bolívia, a quantidade de pessoas sem trabalho atingiu 75% na década de 80, o que fez com que as pessoas começassem a sobreviver do plantio ilegal de coca. A exportação da pasta de cocaína gerava US$600 milhões por ano, muito acima dos valores possíveis em diferentes setores da economia. .

Esse modelo econômico se expandiu para outros países da América do Sul e do mundo. “O tráfico é a quarta economia mundial e está presente em todas as nações”, afirma o delegado titular do Departamento de Prevenção e Educação do Denarc de São Paulo, Carlos Magno. Ele conta que nos anos 70, o policial que apreendesse 500 quilos de maconha e cocaína era o ‘policial do ano’. “Em 2008, o Denarc confiscou oito toneladas de cocaína e quinze de maconha”, compara.

Apesar disso, não são as drogas ilegais as mais consumidas. O fundador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), Elisaldo Carlini, conta que a soma de todos os internados por conta do uso de drogas não chega ao número das internações causadas pelo alcoolismo. Ao ser questionado sobre o motivo pelo qual o álcool e cigarro não são proibidos, já que causam dependência e lideram o número de consumidores, ele continua. “Na época em que eles surgiram, não se sabia dos males. Então criou-se toda uma indústria ao redor do álcool e cigarro, hoje, impossível de acabar”.

Carlos Magno tem um lema para essa questão: “Dinheiro de imposto à vista, saúde a prazo”. Para ele, a razão da não proibição do álcool e cigarro é puramente econômica. E, então, surge a questão: A proibição das drogas também está ligada a uma questão econômica?

A polêmica legalização

Para Mário Magalhães, jornalista e autor do livro O Narcotráfico, há muitos interesses econômicos tanto em manter as drogas ilícitas no atual estatuto, como na legalização. “O tráfico de drogas funciona como um empreendimento capitalista internacional que se apoia em instituições de todo o planeta, com a peculiaridade de ser ilegal”, explica. O autor não acredita que a legalização seja o fim para essa economia e sim, enxerga outras consequências para a medida: “Uma delas seria o aumento abissal dos atendimentos na rede hospitalar, o que criaria o caos na saúde pública”, afirma.

Para o delegado Carlos Magno, a legalização é totalmente falha para combater o narcotráfico. “Não podemos importar a cultura de países pequenos e de rendas altíssimas como Holanda, Dinamarca e Suécia para um lugar de 190 milhões de habitantes”, explica. Ele cita ainda a desigualdade social e nível baixo de educação do Brasil comparado a esses países.

Além disso, a legalização não acabou com o tráfico: “Na Holanda, você se inscreve no programa e consegue, por exemplo, cinco gramas de maconha por semana, mas você fuma vinte, os outros quinze vêm do tráfico”, explica. O delegado é contra legalização, porém acredita que a solução não está na prisão do usuário. Dessa forma, expõe sua opinião a favor da descriminalização das drogas.

O fundador do CEBRID, Elisaldo Carlini, também considera importante o projeto de descriminalizar, pois acredita que a prisão não trará nenhum benefício ao usuário. “Acredito na reeducação com serviços públicos, não na punição”, afirma. Ele conta que entre os anos 1994 e 2003, aproximadamente, 800 mil jovens tinham ficha criminal por uso de maconha nos EUA. Destes, 250 mil foram condenados. No mesmo ano, mais de 100 mil jovens foram violentados nas prisões, muitos faziam parte daquele grupo de réus primários. “Se tivesse educação suficiente e qualidade de vida, o tráfico desapareceria”, afirma.

Enquanto as medidas são avaliadas, o narcotráfico no Brasil cresce em média 6% ao ano, movimenta R$5 bilhões por ano no país e 40% da cocaína que chega à Europa passaram por aqui.

 

**O ESTADO RJ

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