O sonhador Roberto Loeb e a modernista Fernanda Marques falam da carreira, sonhos, anseios e tendências da arquitetura e decoração
Se um arquiteto nasce arquiteto, não existe prova, mas que os bons profissionais demonstram desde cedo o olhar crítico, a criatividade e gosto pelas formas e contornos das coisas é certo. Pelo menos, dois dos grandes nomes da arquitetura já tinham o desenho, montagem e desejo de inventar como características quando crianças. O sonhador Roberto Loeb mostrou sua paixão pela criação ainda pequeno. “Como toda criança, brincar é a forma divertida de sonhar e aprender (…). Brincar com bloquinhos de madeira era um dos melhores jeitos de inventar e sonhar”, lembra ele. A moderna arquiteta Fernanda Marques também descobriu cedo o gosto que levaria por longos anos da sua vida: desenhar.
Na adolescência, Roberto sonhou em seguir diversas profissões. “Quando descobri o que a arquitetura representava e possibilitava, achei que tinha encontrado um caminho que batia com meus sonhos e fantasias”, explica. O sonho deu certo e levou o sobrenome Loeb para além das fronteiras. Roberto se formou em Arquitetura pela Universidade Mackenzie, em 1965. Desde então, ele criou prédios importantes em São Paulo, participou de concursos em outros países e até em outros continentes. “Cada projeto é uma aventura e cada aventura uma descoberta”, comenta o entusiasta.
Dentre os trabalhos mais importantes de Loeb, estão o Centro de Cultura Judaica que ele projetou em homenagem aos avôs judeus, de origem russa; a fábrica de cosméticos Natura; e a recuperação do Edifício São Vito. Segundo ele, cada obra tem um lugar especial na memória. Por qualquer lugar que Loeb passa, ele observa, aprecia, reprojeta, inventa, imagina e sonha. O estilo do arquiteto é conectado ao amor pela vida e às necessidades das pessoas. “O monumento genial da arquitetura é aquele que integra a natureza, a vida urbana, a vida rural, numa celebração da vida e no estímulo à criatividade e conforto pessoal e comunitário”, diz o sonhador.
Trabalhos com o coração
O modo de trabalho de Roberto Loeb é íntimo e peculiar. Primeiro ele visita o local da obra, conversa com o cliente, entende as necessidades de prazo, custo e funcionamento. “Procuro saber o que não aparece em palavras, mas que é essencial: os desejos, os sonhos, as fantasias e as expectativas”. Só então, ele começa a desenhar, criar, alterar, refazer até chegar ao resultado ideal. Os anos ensinaram Loeb a trabalhar com a realidade e o sonho. “Não é um estilo, é um desenho que reflete esses sonhos e a realização da obra, viável no tempo e no custo”.
Como grande idealizador, ele tem um projeto na cabeça para o centro de São Paulo que atenda uma cidade funcionando 24 horas, com universidades, escolas, habitação acessível, livrarias, cinemas, teatros, supermercados, lojas, quitandas, mercearias, bares e restaurantes. “Tudo restaurado, iluminado, limpo, e seguro. Um lugar onde a memória e as construções do passado convivam com as necessidades do mundo de hoje”, explica. Segundo ele, a contemporaneidade é o desafio cotidiano para a construção.
Luz, lápis e ação
De desenhar ela sempre gostou, seu estilo é moderno e contemporâneo e um item que não pode faltar no ambiente é a luz. Fernanda Marques se formou em Arquitetura pela Universidade Mackenzie, em 1988. Em menos de dez anos, mais precisamente em 1995, a arquiteta já estava com o seu próprio escritório. Se passou alguma outra profissão pela cabeça de Fernanda? A resposta enfática da arquiteta é direta: “Não”.
Fernanda é de formação modernista e os trabalhos da arquiteta são caracterizados pela contemporaneidade e tecnologia. “Tudo que é novo me atrai”, diz. Segundo ela, a tecnologia aplicada à vida é fundamental no processo de criação e estar conectada, para a arquiteta, é algo decisivo. Fernanda explica que às vezes a modernidade pode ser um prolongamento do estilo mais retrô e uma obra não precisa seguir à risca apenas um dos dois. “Em determinados momentos, uma casa pode ser uma coisa, em outro, tudo pode mudar”, explica a criadora.
Em pouco mais de 20 anos de trabalho, Fernanda conseguiu uma coleção de troféus de dar inveja. Em 2002, ela ganhou o Prêmio Espaço D 2002 na categoria residencial, com a Casa Polônia; na categoria comercial, com o restaurante Hanadoki e na categoria mostras, na Mostra Casa Cor. Apesar de toda a experiência, a arquiteta se considera em constante evolução. “A possibilidade de interferir na vida das pessoas, de fazer ela melhor a depender dos projetos”, foi e é a razão que inspira Fernanda na criação das obras.
Em geral, ela gosta de ambientes claros por eles refletirem a luz, o elemento essencial para a criação da arquiteta. A casa idealizada por Fernanda, sem sombra de dúvida, também deve seguir aos mínimos detalhes sob o olhar da profissional. “Se vive a maior parte do tempo em casa e cada vez mais, portanto, é importante pesar bem nossas escolhas”, justifica.
Passear pelo centro velho de São Paulo com Fernanda, com certeza é uma experiência diferente. Ela mesmo admite que, por ser arquiteta, tem mais sensibilidade no que diz respeito aos volumes; cheios e vazios. No entanto, na hora de escolher uma obra como referência na arquitetura, enquanto Roberto Loeb vagou pelas construções de Paris, Roma e Madrid; a resposta de Fernanda foi: “Uma só? Seria injustiça da minha parte citar”.
Dicas para decorar
No quesito finalização do projeto, Loeb e Fernanda concordam que cada objeto, móvel, quadro, enfeite ou ornamento deve ser escolhido com cuidado. Fernanda afirma que os elementos de decoração podem ser encontrados em uma loja famosa de design ou na banca de uma esquina qualquer. “O que importa é se identificar com os objetos”, explica a arquiteta.
O conselho de Loeb segue a mesma linha e ressalta a importância de seguir os desejos. “É preciso saber ouvir o coração”, diz. Para cada cliente é indicado um tipo de decoração, seja ela frágil ou sólida, que atenda aos anseios do morador. “Depende de cada circunstância, não existe apenas um lugar certo para comprar os objetos”, explica ele.
Tendências do mundo arquitetônico
“Minha dica de acabamento é investir em texturas, pois uma mesma cor pode assumir diversas configurações a partir de sua densidade e aplicação”, sugere Fernanda. Para a arquiteta, a tendência em decoração e arquitetura é a combinação de “ambientes integrados, simultaneidade de funções e presença forte da tecnologia”.
De acordo com Roberto Loeb, metal, vidro, concreto, tijolos, madeira, cores, texturas e vegetação estão na lista dos elementos que podem ser usados com sabedoria nos projetos. “É preciso inovar com prazer e responsabilidade”. Loeb afirma que não existem ambientes perfeitos, mas que os próximos à perfeição englobam acolhimento e conforto das pessoas em quaisquer circunstâncias.
**Revista Amauri