POLÍTICA

Minhas imagens não incriminam os israelenses, diz Iara Lee

PUBLISHED ON WWW.TERRA.COM.BR

De volta aos Estados Unidos, onde mora, a cineasta brasileira Iara Lee admitiu, em entrevista ao portal Terra, que as imagens colhidas por sua equipe durante o ataque israelense à flotilha Mavi Marmara não incriminam o exército de Israel. Ela vai trabalhar, no entanto, para “levar Israel à lei internacional”, e disse que os registros feitos a bordo podem auxiliar em uma investigação da Organização das Nações Unidas (ONU). “Estamos analisando as imagens (do ataque) para ver o que pode ajudar nas investigações”, declarou. Iara estava na embarcação de ajuda humanitária invadida por tropas de Israel ao tentar furar o bloqueio à Faixa de Gaza, na madrugada do último dia 31. Nove pessoas morreram no ataque, e centenas foram deportadas, como a própria Iara, que desembarcou em Nova York na tarde da última sexta-feira, dia 3 de junho. Não foi a primeira ação pró-Palestina na qual Iara tomou parte. Ela afirmou que já foi presa e deportada de Israel em duas ocasiões entre 2004 e 2006. “Estou na lista negra”, disse ela, que tornou-se uma ativista pela paz desde a invasão americana ao Iraque, em 2003. Iara viaja uma vez ao ano ao Brasil para ver sua mãe, que já acostumou com as aventuras da filha. Em Nova York, ela vive com seu marido, o americano George Gunt, que já participou de alguns projetos com a cineasta. Quando a embarcação foi interceptada o que passou pela sua cabeça? Não tinha a mínima ideia que os caras iam partir para a brutalidade. No meio da madrugada, avançaram em cima da gente, em águas internacionais. Sequestraram e forçaram a gente a ir para Israel. Aí chegavam e falavam ‘vocês estão ilegalmente em Israel’. Quem queria estar em Israel? Vocês acreditavam que conseguiriam cumprir a missão e chegar a Gaza, ou apenas chamar a atenção para o caso seria o suficiente? Tinha pessoas que me deram entrevistas, tão ingênuas que falavam ‘a gente vai chegar lá, tenho certeza, a gente vai chegar lá e vão vir todas as pessoas nos abraçarem’. Meus amigos falavam ‘Iara você é doida, você acha que eles vão entrar em um navio com 600, 700 pessoas?’, mas eu dizia ‘olha vocês não conhecem Israel, já estive nas mãos deles em 2006 quando eu morava no Líbano’ (Iara participou de atividades e prol da Palestina). Para você, qual a percepção mundial em relação ao ataque de Israel aos ativistas? Para o mundo inteiro, a ficha caiu que este bloqueio de Israel (a Gaza) é uma coisa internacionalmente condenada. Eu sempre falo que as coisas não mudam do dia para a noite, mas, este foi um evento internacional de repercussão grande. Desta vez, havia muitos países representados; tinha Grécia, Espanha, Irlanda, Nigéria, Turquia e outros. O que a motivou a aderir à causa pelo término do bloqueio Israelense? Eu estou nessa de ajudar os palestinos já faz muitos anos. (Os israelenses) Já me deportaram em 2006 e me colocaram na prisão em 2004. Qualquer pessoa que ajuda um pouquinho, o cara já te coloca na prisão e te trata como se você fosse uma terrorista, um monstro. Quanto mais a gente é tratada de maneira injusta, mais se apega à causa da justiça, a gente sente na própria pele. Por que você foi deportada anteriormente? Israel nega entrada às pessoas quando elas quiserem, sem justificativa. Fui deportada em 2003 da fronteira com a Jordânia, e em Tel Aviv fui presa e deportada em 2004. Trabalho com os palestinos de forma incipiente, mas eles me trataram como se eu fosse uma ativista importante, que estivesse conseguindo muitas mudanças para os palestinos, me prenderam e me deportaram. O que você espera da ONU, quando mostrar as imagens do ataque que você tem? Eu não tenho imagens incriminatórias, eu estava embaixo. É mais um overview o que eu tenho. Uma geral do que rolou. Aquela hora que a gente está de madrugada, já vendo os caras e todo mundo veste as roupas de salva-vidas. O pessoal rezando, esperando uma comunicação, mas ninguém podia imaginar uma coisa brutal deste jeito. Passa meia-hora, já está tudo diferente, são feridos, mortos. Eu só tenho uma geral, não tenho os close-ups dos caras assassinando a gente. Mas, de repente os investigadores (da ONU) fazendo uma análise frame by frame, podem achar alguma coisa lá. Você nasceu, cresceu e se formou no Brasil. O que te levou a morar nos Estados Unidos? Eu tenho uma visão meio global do mundo. Eu nasci no Brasil, morei nos Estados Unidos, na Tunísia, no Líbano, na Coreia, em Paris. A cada ano eu tento usar um país diferente como base, para poder entender um pouco o mundo de uma maneira mais direta. Através da Fundação Caipirinha (produtora fundada por ela nos Estados Unidos) eu uso a criatividade para promover a paz e a justiça. Como você concilia sua vida pessoal às atividades de cineasta e ativista? Eu não tenho vida pessoal. Minha vida é aquilo, é trabalho, é projeto. Eu vivo com o meu marido, meu parceiro, meu melhor amigo. Ele aceita o meu modo de viver. Uma vez ao ano visito minha mãe (no Brasil) e, como não tenho filhos, minha vida é o meu trabalho.

**TERRA

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *