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A transição de gênero na infância tem causado polêmica na Austrália após a divulgação de dados, pelo Departamento de Educação de Nova Gales do Sul, de que centenas de crianças transgêneros, algumas com idades entre 3 e 4 anos, estão sendo tratadas em hospitais do país. O número de atendimentos no Westmead Hospital, em Sydney, triplicou e o Melbourne’s Royal Children Hospital passou de um a 250 pacientes na última década. Entre eles, uma criança de 4 anos que deve completar a mudança completa de gênero em 2017.
Psicólogos e educadores discutem se a intervenção é precoce. Para a psicóloga clínica Rose Cantali, uma criança de quatro anos é muito nova para qualquer tipo de transição de gênero, mas a opinião da profissional não é unânime. Para o psicólogo infantil Michael Carr-Gregg, por exemplo, “existe uma grande diferença entre gostar de roupas do gênero oposto e a criança se sentir com cada fibra que está no corpo errado”. Segundo a ativista australiana pela causa dos transgêneros Catherine McGregor, crianças que se identificam como transgêneros tendem a estar certas sobre o transtorno de identidade.
Estudos recentes do psicólogo belga Jean Malpas mostram que do inconformismo com o sexo designado na infância, 50% das crianças tendem a ser homossexuais na vida adulta, sendo que 25% delas trocam de sexo. De acordo com a psicóloga Denise Rodrigues Gomes, “pode existir um desconfoto desde muito cedo, perto dos três anos de idade”. “A partir dos seis e sete anos começa uma separação das crianças por gênero: meninas para um lado, meninos para o outro”, continuou. Nessa fase, costuma acontecer a identificação de gênero.
Não é possível, porém, determinar uma idade universal, pois elementos como meio social e cultural em que a criança vive podem influenciar. As psicólogas do Núcleo Evoluir, Cibely Pacifico e Paula Cordeiro, não são contra a transição de gênero na infância, desde que seja feita de forma cautelosa. “É preciso muito cuidado para que o desejo da criança não seja reflexo dos cuidadores e que não se tenha pressa em rotular o indivíduo. O ideal é interpretar os sinais dados pela criança, mas que se tente evitar ao máximo interferir nesse processo”, disse Cibely.
Como a identificação de transtorno de gênero é delicada, Catherine recomenda aos profissionais envolvidos nas etapas muito cuidado para que medidas irreversíveis não sejam tomadas de forma prematura. O atendimento para a mudança de gênero na infância, quando precoce, pode causar problemas comportamentais e emocionais, como transtorno de ansiedade e depressão, alertou Cibely.
Menino ou menina?
As construções de gênero são baseadas nos conceitos sociais estabelecidos na sociedade e incluem roupas, gestos, gostos, entre outros comportamentos, como explicou a psicóloga Denise. “No ambiente social, existe a definição do comportamento adequado e esperado de meninos e meninas”, disse a profissional. Na fase de descoberta de gênero, que pode ocorrer a partir dos seis anos, algumas crianças se sentem desconfortáveis e não conseguem se encaixar no grupo ao qual seu sexo corresponde.
De maneira geral, Cibely enumerou que crianças transgêneros apresentam descontentamento com a própria anatomia sexual, resistência em vestir roupas típicas de seu sexo e costumam fazer brincadeiras em que exercem papel do sexo oposto. Sinais de sofrimento, confusão e isolamento também são comuns, de acordo com a psicóloga. Quando a criança é identificada como transgênero é fundamental que a família e todas as pessoas do convívio, inclusive na escola, recebam orientação e suporte para acompanharem a transição e não criarem um ambiente hostil.