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“Vai fazer ballet, minha filha”. Nem que a mãe de Juliana tentasse, não conseguiria. A paixão da brasileira, hoje com 28 anos completos, nunca foram essas “coisas de menininha”. Desde pequena, Juliana Rosa era “fanática” por Jaspion, Jiraya, filmes de artes marciais e fã das lutas de Mike Tyson: “assistia muito”. A adolescência chegou e o caminho era óbvio para ela: “fiz minha primeira luta aos 17 anos e não parei mais, foi viciante”. Mas o caminho fora da curva – ainda existe muito preconceito contra mulheres que lutam, segundo ela – foi difícil e Juliana quase desistiu do esporte no Brasil. Ao invés de jogar a toalha, a profissional de Muay Thai fez as malas e há quatro anos se mudou para Bangkok.
“No Brasil, eu lutava uma vez por ano. Aqui, consigo competir todo mês, já cheguei a lutar seis vezes em 30 dias”, contou a lutadora de Muay Thai
Antes de mudar para a Tailândia, ela já colecionava títulos como o de campeã paulista, brasileira, panamericana e sul-americana, tudo isso em cerca de 26 lutas. O número de vezes em que Juliana pisou no ringue já dobrou desde então. Nos últimos quatro anos, além de conquistar mais medalhas, Juliana passou a lutar todo mês ao vivo na TV, já foi destaque em jornais e revistas tailandesas, e ganhou até um nome profissional: “honey badger”. “É um animal pequeno que enfrenta bicho de qualquer altura. Como eu sou baixinha e quase sempre luto com meninas mais altas, falam que eu pareço com ele”, explicou. Juliana tem 1,63 m de altura e já enfrentou rivais de 1,80 m e 10 kg mais pesadas.
Se ela está feliz? Tirando a saudade da família – Juliana não voltou ao Brasil ainda, desde 2012 -, ela está vivendo o sonho de competir no esporte que ama, no país de origem dele. O trânsito intenso e ritmo da capital tailandesa até que fizeram a paulistana se sentir em casa, mas a comunicação foi um obstáculo e ainda é, segundo ela. Mesmo assim, o momento mais incrível da carreira da lutadora foi quando pisou da Tailândia. “Nunca na minha vida eu pensava em viajar longas distancias de avião”, contou.
“Tudo o que eu tinha no Brasil eu vendi para tornar a viagem possível”, disse Juliana
A luta mais marcante também aconteceu no país asiático, no dia do aniversário do rei tailandês, o Bhumibol Adulyadej Rama IX. “O evento foi realizado em um grande parque, aberto ao público, milhares de pessoas estavam presentes, lutei contra uma tailandesa e venci por pontos, foi muito especial”, descreveu Juliana. Nenhuma das conquistas de Juliana foi sem mérito ao esforço e persistência da atleta. Ela já quebrou o nariz três vezes e rompeu ligamentos do tornozelo no ringue, sem contar o olho roxo. Em São Paulo, ela dividia a rotina entre treino de Muay Thai, trabalho como personal training, e faculdade de educação física.
Em Bangkok, o dia de Juliana começa com um treino às 6h com duração de 3h30, entre corrida de 10 km, exercícios físicos e técnicos. Ela faz um intervalo até as 15h30, quando corre mais 4 km e tem treinamento intensivo de Muay Thai até as 19h, e depois segue para o curso de línguas para aprender tailandês. A rotina é corrida? Muito. Mas ela ama o que faz e ainda acredita em um futuro cada vez com mais oportunidades para as mulheres. “Apesar de existirem poucos eventos, a concorrência é menor e a chance de se destacar é mais alta”, concluiu Juliana, a “honey badger” da Tailândia.