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Do lado de cá do mundo, mulheres votam, trabalham, têm direito aos filhos, casam e se separam quando querem, lideram grandes negócios e até comandam ou comandaram países, como Dilma, Merkel e Kristina Kirchner. Normal? Eu diria “sim”, em solo brasileiro, mas não dá para ignorar países em que a cultura ainda reduz o direito delas. E um lugar onde o homem pode sequestrar a mulher na rua quando quer se casar com ela não tinha como passar despercebido durante uma viagem que fiz pelo Vietnã. O ato é tradicional no vilarejo da etnia Hmong, na região de Sapa, no norte do país.
Solitário e jantar a luz de velas? Não. Liberdade de escolha? Nada disso faz parte da realidade de Mini, suas amigas e irmãs. Para falar a verdade, ela parece pouco se importar com “essas coisas do ocidente”. Lá, é “vantagem” aceitar a proposta: não querem ser “solteironas” depois dos 20 anos, pois “é sinal de que a mulher tem algum defeito”, explicou ela, casada desde os 17. O lado financeiro também pesa na hora de dizer “sim”. Em Sapa, os pais da noiva devem oferecer dote ao noivo e pode ser que o segundo “sequestro” saia mais caro. Feliz a Mini que tem dois filhos homem.
Elas são felizes, não se sentem prejudicadas, tampouco pensam em deixar o vilarejo, mas ainda assim é difícil entender a passividade das mulheres da região. Seja para alimentar a sede pela liberdade feminina ocidental ou não, Mini contou que o sequestro é um ato simbólico e que por vezes o casal já até mantém uma paquera. Nesses casos, o sequestrador combina com o pai da noiva o dia e hora para capturá-la e entrega um presente à “vítima”.