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“Quero mostrar a complexidade do ser humano”, diz Bruno Barreto
Com grandes chances de ser indicado ao Oscar 2009, o filme “Última Parada 174” retrata a realidade social, baseado em um desdobramento do documentário “Ônibus 174”, de José Padilha, porém com caráter fictício.
O filme, seu trabalho mais recente, e que abriu o Festival de Cinema do Rio este ano, foi o mais difícil de conseguir apoio financeiro. Bruno Barreto, diretor do filme, acredita que seja pela polêmica do tema, tanto que a produção não conseguiu apoio de nenhuma empresa e foi realizada apenas com recursos privados.
Apesar dos contratempos, a produção tem grandes chances de ser indicada ao Oscar. Antes, é preciso todo um trabalho de divulgação e uma boa distribuidora. Ou seja: mais investidores. Em entrevista ao O Estado RJ, Bruno Barreto fala como surgiu a produção do longa.
O Estado RJ: O que te chamou a atenção no caso do ônibus 174 para fazer o filme “Última Parada 174”?
Bruno Barreto: A história da mulher que acha que é mãe do Sandro no documentário “Ônibus 174”, do José Padilha. Achei interessante, quis explorar mais e descobri que ela realmente achava que ele era o filho dela, pois ele havia desaparecido ainda quando criança
OERJ: Mesmo sendo ficção você teve que buscar personagens do fato real?
Bruno Barreto: Nós falamos com ela, eu e o Bráulio, mas a informação foi mesmo dada toda no documentário. A história da mulher é quase um documentário a parte.
OERJ: Sua percepção do caso mudou após o filme?
Bruno Barreto: Não, pois o filme é sobre o que leva uma pessoa a agir daquela forma, o caso é o clímax do filme. A razão de ser do filme é a construção do inimigo público número 1, como uma pessoa acaba se transformando nesse inimigo.
OERJ: O que te marcou no “Última Parada 174”?
Bruno Barreto: Talvez seja a história mais forte que já contei na minha vida, então, o que me marcou foi a força emocional.
OERJ: Por que a preferência por um elenco fora da mídia?
Bruno Barreto: Porque eu não queria atores que as pessoas assistissem o filme e soubessem da vida pessoa daquela pessoa. Isso iria tirar o foco do personagem.
OERJ: Sua mudança do Rio de Janeiro para São Paulo está relacionada ao caso?
Bruno Barreto: Na verdade, não. Eu moro em São Paulo, pois passei dezessete anos nos EUA e depois disso não dá para voltar a morar no Rio, São Paulo engana melhor.
OERJ: Qual é o seu primeiro passo quando vai fazer um filme?
Bruno Barreto: Eu não faço um filme sem querer dizer alguma coisa. Quero mostrar a complexidade do ser humano, que não existe uma pessoa totalmente boa, nem totalmente má. Somos bons e maus ao mesmo tempo. E que as pessoas que vivem em condições precárias tem códigos de comportamento diferentes das que têm o que comer.
OERJ: Como surgiu a escolha pelo cinema?
Bruno Barreto: Veio com a fotografia jornalística, então, eu tomei gosto de contar histórias, descobrir, investigar, acredito que começou com uma postura ligada ao jornalismo.
OERJ: Como você avalia a sua carreira?
Bruno Barreto: Acho que é uma carreira bem sucedida, eu filmo muito. Acho que o mais importante é exercer o meu ofício, quanto mais eu faço, mais eu aprendo.
**O ESTADO RJ