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O apoio da presidente Dilma Rousseff (PT) a candidatos nas eleiçõesmajoritárias deste ano foi “cuidadoso”, de acordo com o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília, Leonardo Barreto. À frente de um governo aliado a mais de 20 partidos, a presidente mostrou certa “resistência” com o objetivo de preservar o bom relacionamento no âmbito federal, afirmou Barreto. “Ela participou de palanques apenas no final das campanhas”, comentou. Mesmo assim, a presidente não ficou de fora dos discursos e programas eleitorais de candidatos petistas e da base aliada.
A pressão sobre o envolvimento de Dilma nas eleições era esperada, principalmente em cidades estratégicas, como é o caso de São Paulo, explicou o cientista político. Na capital paulista, uma pesquisa do Ibope divulgada no dia 21 de julho mostrou que 33% dos eleitores votariam com certeza no nome apoiado pela atual presidente e 40% no candidato indicado por Luiz Inácio Lula da Silva. “Dilma tem ajudado bastante, principalmente para candidatos como o próprio Haddad (Fernando Haddad, candidato petista em São Paulo) que começou muito atrás nas pesquisas. Ela e o Lula contribuíram para a construção da imagem do candidato”, analisou o professor do departamento de política da PUC-SP, Pedro Fassoni Arruda.
Para Arruda, a preocupação de Dilma em manter estreitas as relações com aliados e evitar fissuras é real. Como exemplo, ele citou a desistência de lançar candidatura no Rio de Janeiro para apoiar o peemedebistaEduardo Paes (eleito em primeiro turno). O apoio do PT a candidatos da base aliada no segundo turno só reforça a ideia. Em algumas capitais, porém, o apoio explícito fica mais difícil, como é o caso de Natal em que os dois candidatos do segundo turno, Carlos Eduardo do PDT e Hermano Moraes (PMDB) são da base aliada do governo. Em Manaus, o problema se repete: concorrem no dia 28 Alcides Bernal (PP) e Giroto (PMDB).
Em 2008, segundo o professor, a atuação de Lula foi semelhante à de Dilma, com apoio a petistas e aliados. Este ano, para Arruda, o ex-presidente tem se preocupado mais com os bastidores, fazendo acordos e alianças. “Um deles foi a entrada da Marta Suplicy na campanha municipal de São Paulo, muito importante”, considerou.
Dilma como cabo eleitoral nas capitais
De acordo com Barreto, em cada capital a aparição de Dilma e Lula reproduz um efeito diferente e consegue votos de um determinado público. “São duas personalidades diferentes. Depois das eleições de 2010 essas diferenças vieram à tona. Para o eleitor de classe média, a Dilma é mais inspiradora, para o popular é o Lula que mais inspira”, explicou Barreto.
“No caso de Salvador, onde o PT tem a maior parte do eleitorado popular, a presença de Dilma é mais interessante. Em São Paulo, Dilma pode trazer o eleitor de classe média. Cada cidade tem que fazer um tipo de análise”, acrescentou. Em Manaus, a aparição de Lula “poderia dar foco para Artur Neto (PSDB), por causa do conflito entre eles. Se é a Dilma, o foco vai para a Vanessa (Grazziotin, do PCdoB)”.
Cada apoio também é baseado em estratégias, afirmou Barreto
Em Curitiba, segundo ele, o apoio do “casal Hoffman” (os mistros Gleisi e Paulo Bernado) ao PDT estreita a aliança do partido com o governo federal. “Em Manaus, o candidato rival (Artur Neto) da apoiada pelo PT (Vanessa Grazziotin) é inimigo do Lula. Em Salvador, a vitória do PT é uma chance de recuperar o prestígio do partido depois das greves da polícia e professores na época de Jaques Wagner”.
No entanto, os especialistas reforçaram que a política nacional não define o voto local, que é influenciado pela agenda da cidade e dos candidatos. “As visitas têm importância grande, pois elas criam fato politico repercutido na imprensa. O candidato entra no noticiário e pode usar isso a seu favor”, justificou.
O “novo” do PTO antropólogo e cientista social Eduardo Viveiros denominou o período que o PT vive atualmente como de “renovação”. Segundo ele, a estratégia usada tem se focado em “lançar a nova geração petista”, candidatos diferentes que não estejam tão comprometidos com o histórico do partido, mas representem uma nova maneira de gerir o Estado.
A presidente Dilma, na opinião de Viveiros, está “reproduzindo o papel do Lula” – de construir a imagem destes candidatos, assim como foi feita a campanha da própria Dilma, disse. Veja como está sendo a atuação da presidente nas capitais em que ela apoia um candidato.
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