POLÍTICA

Partidos buscam famosos para “puxar votos” nas eleições

A cena se repete a cada dois anos: famosos decoram um número e um punhado de promessas e vão à TV pedir votos. Apenas na campanha de 2010, participaram da disputa os ex-jogadores de futebol Vampeta e Marcelinho Carioca; o cantor Netinho de Paula; o lutador Maguila e o palhaço Tiririca, que acabou eleito com 1,3 milhão de votos. As eleições deste ano não devem ser exceção, com as prováveis candidaturas de Charles Henriquepedia (PTdoB); do filho de Tiririca, Tirulipa (PSB); de João Kléber (PTB) e de Léo Áquila (PV). A intenção dos partidos seria a de usar a celebridade como “puxador” de votos para eleger o maior número possível de candidatos.

“Nas eleições proporcionais (vereadores e deputados), se o Tiririca faz mais de 1 milhão de votos, ele não apenas se elege, como leva mais três ou quatro no cangote”, diz o porta-voz do PDT, Oswaldo Maneschy.

Para o deputado estadual e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro Marcelo Freixo (Psol), colocar um famoso como candidato já “virou estratégia eleitoral”. “Elege um famoso, esse arrasta uma bancada inteira. Dependendo do famoso, consegue colocar mais dois ou três candidatos não eleitos na Câmara.” O sistema de eleição proporcional destinam os votos de um vereador ou deputado ao partido, cujos demais candidatos acabam beneficiados. “Por exemplo, se o Neymar é candidato, certamente vai explodir de votos, que serão somados aos das pessoas com pouquíssimos”, explicou Freixo.

Em um cenário em que Neymar recebesse 800 mil votos, o número seria dividido pelo total de cadeiras para vereadores e, supondo que o resultado (coeficiente eleitoral) obtido fosse 70 mil, o partido elegeria um novo vereador a cada 70 mil votos. “Nesse exemplo, ele poderia fazer mais de 10 (vereadores). Mas, na realidade, é muito difícil ultrapassar quatro ou cinco. Na última eleição, eu tive 177 mil votos e levei comigo uma deputada com apenas 6 mil”, lembrou Freixo.

A consultora política Gil Castillo afirma que a primeira análise feita para confirmar a viabilidade da candidatura é aferir o quanto o respectivo famoso é, de fato, conhecida. “Se a pessoa tem (re)conhecimento alto e, de certa forma, agrada o eleitor, é uma chance de o partido se dar bem. Alguns candidatos do Legislativo jamais teriam votos suficientes se os votos fossem diretos”, disse.

O especialista em marketing político Carlos Manhanelli vê eficácia na estratégia. “Mesmo que ele (o famoso) só fizer tchauzinho na TV, vai ter um bom número de votos. Soma votos de legenda, leva mais vereadores ou deputados.” Para ilustrar sua tese, Manhanelli lembra o caso de Enéas Carneiro (Prona, PR), que ganhou fama com o bordão “meu nome é Enéas”. “Quando ele aparecia, começou a falar para as pessoas que esquecessem o número dele – votassem no 56, que estaria votando nele”, lembrou. Em 2002, Enéas foi o deputado mais votado do País, com mais de 1,5 milhão de votos.

O presidente do PTdoB, Vinícius Cordeiro, admite que o partido adota o expediente de dedicar mais tempo na televisão para candidatos famosos. “O Tiririca foi amplamente ajudado pelo partido que o colocou nas inserções. Foi colocado como puxador de voto. A gestão de um partido acha que o candidato terá mais votos e destina mais tempo de propaganda a ele”, diz Cordeiro.

Famoso ou anônimo
“Nós temos alguns princípios de marketing político: só se vota em quem se conhece. Quando você tem uma pessoa muito famosa, o primeiro trabalho que você faz numa campanha, que é tornar o candidato conhecido, já está feito”, afirma Manhanelli. Um candidato famoso, segundo o especialista, tem “de 30% a 35% mais chances de ser eleito do que um anônimo” e ainda pode fazer uma campanha mais barata. O mesmo vale para candidatos de reeleição.

Mas, para ser eleito, não basta ter fama. “Eu fiz um estudo de todos os famosos que tentaram entrar na política. Poucos foram os que conseguiram”, observa Manhanelli.

De acordo com Gil Castillo, existem outros componentes para o sucesso nas eleições. “O candidato tem que representar alguma ideia, ser líder de algum seguimento. Nas eleições passadas, as candidaturas do Romário e do Tiririca se consolidaram porque eles representavam algo. Romário, o esporte; o Tiririca, o voto de protesto”, explicou. Para a consultora, as propostas do candidato precisam atender aos anseios da população.

Cordeiro ainda observa que o uso de celebridades para puxar votos é mais comum em candidaturas de deputados que de vereadores, já que, nas eleições municipais, há mais contato com os eleitores. “Se a pessoa tem mais atuação na comunidade, já tem votos garantidos, mais até do que um famoso”, sustenta.

A Lei enfraquece os fracos
Para o porta-voz do PDT, o controle da propaganda eleitoral deixa os candidatos desconhecidos e com menos condições financeiras em desvantagem. “Hoje em dia, é impossível uma figura sair do zero e ganhar as eleições. O candidato que sai do zero não pode nem ser notícia. Antigamente, podia pintar muros, colocar cartazes e outras coisas. Hoje, as pessoas precisam perder um tempo danado para dizer que não são vigaristas”, sugere Maneschy. Carlos Manhanelli concorda. “A Lei 11.300, de 2006, proibiu brindes e showmício. Protege quem já está no poder e barra as novas lideranças”, lamenta.

Codeiro aponta o pouco tempo para se fazer campanha como um fator que impulsiona cada vez mais a eleição de famosos. “A campanha mais curta e restrita não consegue debater as ideias ou levar ao eleitorado um pouco da distinção da chapa. Uma campanha mais politizada e longa diminuiria o voto pela visibilidade midiática”, concluiu.

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**TERRA

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