Colocar um travesseiro sob o quadril ou levantar as pernas logo após a relação sexual, ou ainda, medir a temperatura do corpo para identificar a ovulação. Estes são apenas alguns exemplos das crenças cultivadas pelo público feminino que rodeiam a fertilidade e desejo de ser mãe. Passados de geração em geração, algumas mulheres até sabem de provas científicas que anulam a funcionalidade destes métodos, mas, melhor não arriscar, não é mesmo?
O ginecologista e diretor do Centro de Medicina de Reprodução do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Dale, explicou que as crenças em relação à gravidez surgem a partir do momento que uma mulher alcança um objetivo e atribui tal conquista a outra coisa, que não seja o acaso. Um exemplo é a escolha do sexo do bebê, de acordo com a posição da relação sexual. “Isso não existe, mas quando ela faz sexo de um jeito e vem um menino, acredita que foi por causa da posição”, explicou Dale.
O adiamento da gravidez incentiva ainda mais estes mitos. Enquanto no passado as mulheres eram assíduas reprodutoras logo que iniciavam a vida adulta, atualmente elas buscam sucesso financeiro, profissional e pessoal antes de pensar em ter filhos. “A mulher moderna desenha toda a vida dela antes. Muitos pacientes chegam ao final da vida reprodutiva querendo um bebê”, disse Dale.
Segundo o ginecologista, o público feminino que procura ajuda profissional para engravidar tem entre 35 e 40 anos. “Até os 35 existe um patamar de fertilidade, depois dos 40 acontece uma queda muito abrupta e após os 44 anos é raro a mulher conseguir engravidar”, disse Dale. A idade avançada dificulta a fecundação do óvulo, aumentam as chances de abortos e más formações congênitas, como a síndrome de Down.
Problemas para engravidar
De acordo com o diretor médico do Vida – Centro de Fertilidade da Rede D’Or, Paulo Gallo, a infertilidade acomete cerca de 15% dos casais. Entre os casos, 20% deles o problema está em ambos, 40% o problema está com a mulher e 40% com o homem, informou Gallo. Medicamentos para melhorar a ovulação ou o esperma e até fertilizações in vitro são tratamentos para os casos de infertilidade.
Em média, 50% das pacientes conseguem engravidar em um curto período com o tratamento adequado. O resultado em longo prazo é ainda mais satisfatório e 95% dos casos de infertilidade são reversíveis. “Quando um casal tem relações sexuais de duas a três vezes por semana, sem nenhum método contraceptivo, se não engravidar no período de um ano, deve procurar um médico”, alertou Gallo.
Congelamento de óvulos
Por vezes, ter sucesso profissional é uma escolha que exige abrir mão de ser mãe em um determinado momento. Ao mesmo tempo, o sonho de engravidar permanece na mulher e, para que não fique “tarde demais”, a procura por congelamento de óvulos está em plena ascensão, segundo Luiz Fernando Dale. “Mulheres que chegam a certa idade sem família estável ou pacientes de câncer que podem perder os óvulos no tratamento são as principais”, disse ele.
O procedimento se consiste em estimular a ovulação, retirar os óvulos por ultrassonografia e congelá-los. Quando, então, a paciente decide ser mãe, os óvulos são descongelados e fecundados com o esperma do parceiro no laboratório. O embrião é inserido diretamente no útero feminino.
“A gravidez (com a fertilização in vitro) tem 40% de chances de dar certo”, disse. O índice pode parecer baixo, mas é mais alto do que o estimado para as relações sexuais, em que a mulher tem de 10% a 15% a menos de probabilidade engravidar, segundo o ginecologista. “Ela ovula apenas em um momento do ciclo e o óvulo só pode ser fecundado nas primeiras 24 horas, são muitas variáveis”, justificou.
Mitos e verdades
Usar pílula anticoncepcional por muito tempo deixa estéril. De acordo com o ginecologista Paulo Gallo, este é um mito e as mulheres podem tomar o contraceptivo sem preocupação.
Lavar a vagina após a relação evita a gravidez. Mito. Segundo o ginecologista e obstetra José Bento, a os espermatozoides chegam a 45km/h e são mandados direto para o colo do útero.
Temperatura do corpo mostra quando está ovulando. O ginecologista Luiz Fernando Dale afirmou que medir a temperatura não funciona. “A temperatura é elevada em 0,5°C a 1°C 48 horas depois que ocorreu a ovulação. Quando a pessoa constatar que ovulou, o óvulo já não existirá mais”, disse ele. Dale aconselhou o teste de ovulação através da urina para “cercar” o momento da ovulação. O médico Paulo Gallo lembrou também que a temperatura corporal pode variar de acordo com o estado de saúde da mulher, portanto não serve como parâmetro para detectar a ovulação.
Ficar com as pernas levantadas após a relação sexual ajuda a engravidar. “É desnecessário, pois o esperma chega a 45km/h e vai direto para o colo do útero”, explicou José Bento.
Colocar almofada sob os quadris aumenta as chances de engravidar. José Bento disse que este é mais um mito e a almofada não muda as probabilidades de ser mãe.
É possível engravidar durante a menstruação. Os especialistas entrevistados pelo Terra afirmaram que não. Segundo Paulo Gallo, o que pode acontecer é a mulher ter um sangramento e pensar que é menstruação, então, engravidar neste período. “Normalmente, o endométrio não está pronto para receber uma criança no período menstrual”, disse ele.
Dia fértil acontece quatorze dias depois da menstruação. Segundo José Bento, em um ciclo menstrual regular de 28 dias, o 14º é momento fértil da mulher. Deve-se contar 14 dias antes da menstruação para chegar à data correta. Já para um ciclo de 30 dias, o período fértil acontece no 15º dia e assim por diante, sempre na metade de todo o ciclo.
Ciclo menstrual irregular indica problemas. “Mulheres com o ciclo muito irregular não ovulam corretamente”, explicou Paulo Gallo. Segundo ele, o ideal é procurar um profissional para corrigir o problema.
Tratamento para engravidar ajuda a ter gêmeos. A probabilidade de ter gêmeos é de 1 para 80, de acordo com José Bento. Segundo Paulo Gallo, tratamentos relacionados ao incentivo da ovulação podem, sim, proporcionar mais chances de a mulher ter gêmeos. No entanto, caso a paciente não tenha problema para engravidar, não deve tomar medicamentos com esta intenção, pois assim como ela pode ter dois filhos, pode ter três ou mais.
Para ter gêmeos é preciso ter caso na família. O ginecologista Paulo Gallo explicou que existem dois tipos de gêmeos: os univitelinos e os bivitelinos. Os primeiros são de um mesmo óvulo, portanto, idênticos e são influenciados pelos fatores genéticos. Já os bivitelinos são fruto de tratamento para engravidar.
A posição da relação sexual influencia no sexo do bebê. “É um mito”, disse José Bento. Segundo ele, não existe relação entre a posição na relação sexual com características do filho.
Esperar muitos anos para o segundo filho, pode não dar certo. O ginecologista José Bento explicou que se nenhum dos parceiros desenvolverem algum problema neste intervalo, o intervalo entre o primeiro e o segundo filho não atrapalha a gravidez. É essencial que a mulher esteja ainda em sua vida reprodutora.
Para engravidar é preciso ter relações todos os dias. Fazer sexo três vezes por semana é o suficiente para gerar um filho, disse Paulo Gallo. “O esperma permanece nas trompas por cerca de dois dias, assim quando a mulher ovular, ele estará lá”, explicou.
É possível engravidar sem que exista a penetração. “A mulher pode engravidar se a ejaculação for próxima à vagina”, alertou José Bento. Segundo Paulo Gallo, os casos são raros, mas acontecem.
Tratamento de fertilidade é garantia de gravidez. “A medicina da reprodução tem tecnologias que ajudam no processo da gravidez, mas tem coisas – como a natureza – que ela não consegue vencer”, disse Luiz Fernando Dale. O maior problema é a idade da mulher, pois no final da vida reprodutiva não é todo mês que a mulher ovula , o que dificulta a gravidez.
Mulheres que engravidam na primeira relação são mais férteis. Segundo Luiz Fernando Dale, as chances de uma mulher engravidar em uma relação sexual giram em torno de 25% – quando ela e o parceiro não têm problemas de fertilidade. Se a relação acontece no dia fértil, ela pode engravidar mais facilmente, do que a outra que teve relações em dias diferentes. Segundo ele, tudo depende da hora certa da prática do sexo.
Só é possível ter filho até os 30 anos. Mito. Até os 35 anos a mulher ovula em uma intensidade linear, após este período a produção de óvulos sofre uma queda drástica. Enquanto a mulher tiver ciclo menstrual, ela pode engravidar, no entanto, terá mais dificuldade e o envelhecimento dos óvulos pode provocar más formações na criança, explicou Luiz Fernando Dale.
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