ENTRETENIMENTO

São Paulo, o Congo brasileiro

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“Na África tem muita violência e tráfico de armas, mas tem o povo alegre e caloroso, que eu só encontro no meu país e aqui com os brasileiros”.

Em passagem pelo Brasil, o MC Pyroman, 29, aproveita para fazer algumas apresentações em São Paulo enquanto se prepara para o lançamento de seu novo disco. Após sua apresentação no Mosteiro São Bento, na Virada Cultural, o “brasileiro de coração”, como se define, aceitou dar uma entrevista ao O Estado RJ.

Nascido no Congo, o músico mudou-se ainda criança para a França, onde seu irmão mais velho o apresentou ao movimento Hip Hop. Isso foi aos cinco anos de Pyroman e ele se dedicou: aos quinze compôs seu primeiro rap e três anos depois já estava com o primeiro CD gravado. Sua vida artística engatou com a academia “ASSASSN”, primeira banda de Hip Hop consagrada na Europa, em 1997. Desde então, o “africancês” se tornou perito em fazer parcerias com outros músicos, inclusive rappers brasileiros.

Hoje, um dos músicos mais consagrados do rap europeu, Pyrom que sempre fez rimas sobre a sua revolta diante da injustiça do mundo, trabalha com uma nova visão em suas músicas que combinam batidas contagiantes a histórias em forma de rimas. “Agora falo sobre minhas experiências, para passar uma mensagem para as ‘personas’ refletir”, explica.

Apesar de ter vivido praticamente a vida toda na França, O MC se comunica bem no Brasil. Isso devido suas freqüentes vindas ao país, desde sua primeira visita, em 2001, não deixa de reservar alguns meses ao ano para vir pra cá. “Quero até fazer músicas inteiras em português, mas ainda preciso treinar mais ou alguém escrever para mim”.

Conhecer o Brasil e a história do país provocou uma mudança radical – que ele não tem palavras para explicar – em sua vida profissional e pessoal. “O Brasil me lembra muito a África, então, é um país de coração mesmo”, diz. Mesmo já tendo visitado Peru, Bolívia, Chile e quase toda a Europa afirma nunca ter sentido nada parecido por outro país. Para se mostrar interado com o que rola no aqui ele já cita até uma lista de seus ídolos no meio musical brasileiro: “Gosto muito de Jorge Ben, Elza Soares e Racionais”.

Pyrom conta que participou do último CD da Elza e, no dia 28 de abril, acompanhou o Mano Brown – vocalista do Racionais – no show de comemoração aos 95 anos do Capão Redondo. Para quem mora em São Paulo, imaginar um francês na periferia da cidade pode soar estranho, mas visitar o gueto ficou longe de ser um choque para o MC, já acostumado as favelas do Congo que são muito parecidas com as do Brasil, segundo ele. “Tinha umas 15 mil pessoas, um clima, uma vibe muito positiva, adorei o Capão”, diz em tom de empolgação.

Para ele, essas participações são como troca de energia e informação, o quê considera uma das coisas mais importantes em sua carreira. “Se você encontra um desconhecido na rua e chama ele para tomar café, aí ele te conta sobre a vida dele, experiências, você troca idéias e aprende”, explica. Entretanto, nem todas as suas visitas e trocas de energias foram de bom grado. Em uma de suas vindas a São Paulo, estava caminhando pelo centro da cidade durante a madrugada quando foi pego de surpresa pelos policias. Sofreu seu primeiro “comando”: “Os policiais me pararam, já gritando e apontando a arma, eu não estava preparado para isso”, conta hoje achando certa graça da sua reação. Com a periferia o MC já está acostumado, mas a abordagem da lei na França é totalmente diferente, segundo ele. “Lá eles falam: Bom dia, o senhor poderia me mostrar seus documentos”. Qualquer abuso policial sai nas capas dos jornais, explica Pyroman. Ele fala das histórias dos moradores do capão em que policiais atiravam em moradores, batiam na cara das pessoas e garante que onde mora isso não pode acontecer, se não vira escândalo na imprensa.

Em novo trabalho

Apesar de o novo disco estar previsto só para setembro, algumas músicas já estão disponíveis na internet. “Tem as mixtapes online para o pessoal já ir conhecendo ”. Com um estilo mais clássico comparado aos seus trabalhos anteriores, Pyrom aposta na divulgação de seu novo CD em shows.

Ele conta que na França os artistas dão mais importância aos discos, coletâneas e DVDs, diferente do Brasil onde o disco é apenas um convite para o show. “Prefiro o jeito brasileiro, você pode ter um contato com as pessoas, sentir como estão recebendo seu trabalho”, justifica.

Para quem ficou curioso sobre o conteúdo do novo CD do Pyroman, acesse o site e escute: www.myspace.com/pyroman2012
O produto final do MC está com lançamento previsto para setembro.

**OESTADORJ

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